quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Oxum Yjimu Por Baba Sérgio de Ajunsun

CASA DO ORISÁ DAS ÁGUAS.




































Oxum Opara - Parte I

Canto para Oxum (Oro mi maió)

ERÊ

ROSINHA DE OURO PROTEJA NOSSAS VIDAS.
No Candomblé, Erê é o intermediário entre a pessoa e o seu Orixá, é o aflorar da criança que cada um guarda dentro de si; reside no ponto exacto entre a consciência da pessoa e a inconsciência do orixá. É por meio do Erê que o Orixá expressa a sua vontade, que o noviço aprende as coisas fundamentais do candomblé, como as danças e os ritos específicos do seu Orixá.
A palavra Erê vem do yorubá, iré, que significa “brincadeira, divertimento”. Daí a expressão siré que significa “fazer brincadeiras”. O Erê (não confundir com criança que em yorubá é omodé) aparece instantaneamente logo após o transe do orixá, ou seja, o Erê é o intermediário entre o iniciado e o orixá.
Durante o ritual de iniciação no Candomblé, o Erê é de suma importância pois, é o Erê que muitas das vezes trará as várias mensagens do orixá do recém-iniciado.
O Erê às vezes confundido com Ibeji, na verdade é a inconsciência do novo omon-orixá, pois o Erê é o responsável por muita coisa e ritos passados durante o período de reclusão. O Erê conhece todas as preocupações do iyawo (filho), também, aí chamado de omon-tú ou “criança-nova”. O comportamento do iniciado em estado de “Erê” é mais influenciado por certos aspectos da sua personalidade, que pelo carácter rígido e convencional atribuído ao seu orixá. Após o ritual do orúko, ou seja, nome de iyawo segue-se um novo ritual, ou o reaprendizado das coisas chamado Apanan.
A confusão entre Ibeji e Erê é muito frequente, ao ponto que em algumas casas de candomblé e batuque Ibeji é referido como Erê (criança) que se manifesta após a chegada do orixá, em outras são cultuados como Xangô e ou Oxum crianças. Porém na verdade Ibeji é um orixá independente dos Erês. Dado o facto conhecido e recorrente de que muita gente transita entre o Candomblé e a Umbanda, é também natural que esta confusão se acentue, dados os conceitos e entendimentos diferentes que existem nas duas religiões e que muitas vezes as pessoas não conseguem diferenciar.
Na Umbanda, Erês, Ibejada, Dois-Dois, Crianças, ou Ibejis são entidades de carácter infantil, que simbolizam pureza, inocência e singeleza e se entregam a brincadeiras e divertimentos. Pedem-lhes ajuda para os filhos, para fazer confidências e resolver problemas. Geralmente supõe-se que são espíritos que desencarnaram com pouca idade e trazem características da sua última encarnação, como trejeitos e fala de criança e o gosto por brinquedos e doces. Diz-se que optaram por continuar sua evolução espiritual através da prática de caridade, incorporando em médiuns nos terreiros de Umbanda. São tidos como mensageiro dos Orixás, respeitados pelos caboclos e pretos-velhos. Geralmente, são agrupados em uma linha própria, chamada de Linha das Crianças, Linha de Yori ou Linha de Ibeji. Costumam ter nomes típicos de crianças brasileiras, como Rosinha, Mariazinha, Ritinha, Pedrinho, Paulinho e Cosminho. Seus líderes de falange incluem Cosme e Damião. Comem bolos, balas, refrigerantes, normalmente guaraná e frutas.

LINDAS HISTÓRIAS CONTADA POR AMIGOS



Rosalinda: a Flor do Sertão!

Uma baiana que não era baiana.

Povo Baiano agrupa os trabalhadores espirituais que viveram no Nordeste Brasileiro, pois os estados nordestinos pertenciam à Bahia no começo da Colonização do Brasil. Por isso, a baiana Rosalinda não nasceu na Bahia. Ela nasceu no sertão nordestino, no estado de Sergipe, numa Vila entre o estado da Bahia e de Alagoas. Essa região hoje se chama: Canindé de São Francisco. Desde que nasceu, com as bochechas bem rosadas, sua mãe lhe chamou de Rosa e seu pai de Linda, por isso recebeu o nome de Rosalinda. Mas, todos costumavam chamá-la de Rosinha. Ela nasceu no ano de 1889, um pouco antes da Proclamação da República e quando Sergipe, enfim, tornou-se um estado brasileiro. Seu pai era um mameluco que trabalhava como vaqueiro nas margens do Rio São Francisco e sua mãe era uma filha de escravos que trabalhava como bordadeira. Viviam da pesca, do gado, do artesanato e se alimentavam de plantas nativas da caatinga.
Rosalinda foi uma moça esperta e alegre que sempre auxiliou sua mãe nos trabalhos domésticos. Também gostava de ajudar seu pai na lida com o gado. Amava a vida que levava: tranquila, a beira do Rio São Francisco e cheia de riquezas naturais. Um dia, alguns cangaceiros cruzaram suas terras e se encantaram com a beleza da moça. Um dos rapazes a convidou para seguir com ele no bando, mas ela recusou. Rosinha não queria se apartar de seus pais e não queria deixar a vida que levava. O Chefe do bando não mexia com moças virgens, respeitava, pois tinha uma filha da mesma idade. Mas, o rapaz, não suportou ser rejeitado e começou a ameaçar a moça. Vendo que seus familiares corriam perigo, pediu aos pais para seguir com o bando, alegando estar apaixonada pelo moço. O pai de Rosalinda, no começo recusou e falou que isso não era vida para uma moça. A mãe chorava muito... Por fim, aceitaram, desde que ela nunca saísse do acampamento dos cangaceiros e que não se juntasse a eles nas contendas. Rosinha concordou, despediu-se dos pais e seguiu com o bando. Seguia cheia de tristeza em seu coração. Sonhava se casar por amor. Jamais pensou em ser forçada a se casar, pois seus pais eram muito bons para ela. Ela correu com o bando por várias localidades e sempre se manteve no acampamento. O rapaz fazia de tudo para agradá-la, porém ela não esquecia a família. Após de um ano viajando Rosalinda estava prestes a dar a luz. Na beira de uma estrada nasceu um menino e ela não resistiu ao parto. Morreu de dor, de tristeza e de hemorragia. O menino cresceu com o pai e se tornou um dos cangaceiros mais respeitados da região, lutando pela justiça dos menos favorecidos. Depois dele vieram outros, como Lampião, que se tornou o Cangaceiro mais famoso da história do Brasil.
Por algum tempo o espírito de Rosalinda vagou, ligado ao menino que nasceu e buscando a família... Mas, depois foi recolhido ao Reino de Aruanda. Ela se tornou mais uma trabalhadora na Falange das Baianas. Trabalha na Linha das Águas, distribuindo amor e alegria a todos a quem atende.
é possível ler a história completa e verdadeira de "Lampião eMaria Bonita".


Exu Mirim...

Um travesso que trabalha na Umbanda!

Exu Mirim, filho de Exu e Pombagira (na crença mitológica), é considerado o arquétipo do "Diabinho" ou "Capetinha" por muitos... Brincalhão e cheio de malícia, quando chega ao Terreiro ele perturba a todos querendo atenção e fazendo manha; sua intenção é a de purificar o terreiro. Agindo na bagunça, eles não demonstram que estão trabalhando.
Nessa Falange estão os espíritos dos meninos que conheceram as maldades do mundo adulto, mas permaneceram crianças em sua essência, assim eles transmutaram sua aparência para servir no plano espiritual. Um Exu Mirim se apresenta com vários nomes, como: Foguinho, Foguetinho, Espoletinha, Caveirinha, Pimentinha, Lodinho, Travessinho, Serpentinho, Tridentinho, entre outros, conforme a Linha e a falange em que atua. Assim como os Ibejis, os Exus Mirins gostam de doces e refrigerantes.
Os Exus Mirins protegem as crianças de rua ajudando-as a sobreviver no mundo de hoje. Eles também acompanham e auxiliam aqueles que trabalham com crianças ou famílias desestruturadas. Um Exu Mirim possui a alegria de servir. Ele trabalha com dedicação e passa sua  alegria ao médium e a todos que o cercam. Essa função de alegrar é para descontrair quem está sendo atendido e desviar sua atenção do problema. Assim, o Exu Mirim pode agir no atendimento e direcionar melhor o tratamento. A intenção de um Exu Mirim é a de purificar um Terreiro. Eles agem na bagunça e, muitas vezes, não demonstram que estão trabalhando!

 

Omi Beijada! Salve os Erês!

Salve Cosme, Damião e Doum! 

Na Umbanda Sagrada, uma das Festas mais festejadas é a "Festa de São Cosme e São Damião". Mas, essa falange não possui apenas a função de festejo, sua atuação vai muito além disso. Toda criança representa alegria, pureza e inocência e transmite essas sensações ao incorporar no médium. As Crianças Espirituais quando "baixam" em um terreiro o fazem com a tarefa de limpá-lo e harmonizá-lo. Os "Cosminhos" (como são mais conhecidos) trabalham em todas as Linhas e todo médium possui seu arquétipo infantil. Eles apresentam-se com os  nomes no diminutivo, o qual,  normalmente, representa a Linha a qual pertencem e trabalham. Exemplos: Mariazinha - Linha das Águas; Joãozinho - Linha de Xangô; Aninha - Linha de Nanã; e assim por diante...
Os Erês possuem funções bem distintas do Candomblé para a Umbanda. Enquanto no Candomblé o Erê assume o médium durante o resguardo, na Umbanda o Erê aparece de vez em quando para purificá-lo e energizá-lo. Erê também é um Orixá Gêmeo (dual). E ainda há o irmãozinho menor, nascido depois: Doum. Eles são filhos de Xangô e morreram crianças. Por isso, costuma-se falar: "é de Dois-Dois ou é de Doum?", referindo-se ao fato de que o Ibeji que "baixou" é gêmeo de alguém ou não.
Os Santos que foram canonizados como protetores das Crianças, eram gêmeos e trabalhavam como médicos dos menos favorecidos; salvaram muitas crianças nas aldeias por onde passaram. Sua família era composta de sete irmãos (com dois partos de gêmeos e um parto de trigêmeos): Cosme, Damião, Crispim, Crispiniano, Talabe, Alabá e Doum. Crispim e Crispiniano também foram canonizados como santos.
Nem todo espírito infantil desencarnado vira Erê... A criança se torna um Ibeji quando cumpriu sua missão na Terra e desencarnou precocemente. Por isso, já dizia Jesus: "Deixai vir a Mim todas as Criançinhas, porque delas é o Reino dos Céus!"


Pombagira Menina:

Apenas uma menina que perdeu sua inocência...

Essa menina doce e meiga, de olhar oriental, nasceu em Myanmar (Birmânia), no sul da Ásia, no ano de 1838 - na época uma colônia britânica. Em sua tribo as mulheres não alongavam os pescoços com colares (como na Tribo das Mulheres Girafas), apenas tatuavam a pele quando eram prometidas em casamento para mostrar o compromisso e usavam uma pesada tornozeleira. No seu país todos os nativos eram budistas. Seu nome aqui no Brasil seria algo assim como "Swang Pi".
Aos nove anos, foi vendida por seus pais a um grupo se soldados britânicos. Eles pensaram que a vida dela seria melhor em outro país, onde ela teria maiores oportunidades. Mas, ela foi comprada para serví-los de todas as formas. Então desde cedo, juntou-se a outras meninas que se tornaram escravas sexuais de seus tutores. Além de cozinhar, lavar e servir, elas deviam manter-se asseadas e bonitas, pois quando eram procuradas deviam estar dispostas a serví-los bem. Foi assim, que com apenas doze anos de idade, Swang já conhecia o mundo dos adultos. Para fugir dessa realidade aprendeu a consumir bebidas e a usar a pinang - uma espécie de planta misturada ao tabaco - que servia como estimulante. Aos treze anos toda a sua noção de vida real havia se perdido e ela vivia entre a bebida, a droga e o sexo. Desencarnou antes de completar quatorze anos, tendo ataques epiléticos, por conta de uma mistura de bebida, noz de areca e outros alucinógenos.
Acordou no Plano Espiritual, em meio a espíritos sofridos, sem saber o que lhe havia acontecido. Uma avó que lhe amava muito lhe socorreu e levou-a a um hospital espiritual. Quando recuperou sua memória e sua decência, quis entender sua trajetória de vida. Pediu para trabalhar com meninas, que assim como ela, perderam toda a inocência antes da puberdade. A partir de então ela passou a visitar diversos lugares no mundo inteiro, onde haviam meninas que passavam pela mesma situação que a sua. Veio parar no Nordeste brasileiro e conheceu as meninas que também se tornavam escravas sexuais desde cedo. Pediu para ficar nesta terra e fazer parte de um novo trabalho. Conheceu a Seara do Caboclo Sete Encruzilhadas e percebeu que poderia ajudar sem ser julgada ou condenada. Poderia ser ela mesma e simplesmente trabalhar... Assim como ela existem outras meninas com suas histórias de dor e sofrimento e que também trabalham como Pombagiras Meninas na Umbanda Sagrada.


Pai João do Toco...

O Preto-Velho das Almas!

Nascido na Fazenda Boa Esperança no norte de Minas Gerais, Pai João tornou-se conhecido durante o Ciclo do Ouro por habitar uma Fazenda Fantasma, onde ninguém queria morar. Nascido em 1730, foi escravo durante a metade de sua vida. A Fazenda onde ele trabalhava foi vendida e seus novos donos não queriam escravos. Alforriaram todos e contrataram aqueles que quisessem permanecer ganhando uma moeda e comida. Quem tinha família permaneceu na fazenda... Como ele nada tinha, resolveu partir, mas não tinha lugar onde morar. Então lembrou-se de uma fazenda abandonada na cidade vizinha e resolver ir para lá. Tinha ouvido muitas histórias a respeito do lugar e ninguém se aventurava por aquelas terras, pois eram habitadas por fantasmas de escravos enraivecidos e mineradores perdidos.
Ao chegar na fazenda descobriu o que estava acontecendo com os espíritos e resolveu apaziguá-los. Conversou e estabeleceu uma trégua com eles. Assim, pode estabelecer sua morada e viver em paz. Sua avó, por parte de mãe, havia lhe dado esse dom, que veio de seus ancestrais africanos: o de falar com os mortos. E ele ainda sabia benzer e curar. Durante o restante de sua vida tornou-se morador efetivo da fazendo e ninguém nunca lhe perturbou, pois os vivos (proprietários da fazenda) moravam em Portugal e os mortos lhe respeitavam.
Nunca casou ou teve filhos. Morou sozinho a vida toda, mas era visitado constantemente por aqueles que queriam soluções para os mais variados problemas. Ninguém na cidade lhe perturbava por conhecer sua fama. Assim, viveu em paz o restante de sua existência. E quando desencarnou passou a trabalhar auxiliando os irmãos menos esclarecidos. Um século depois tornou-se um dos trabalhadores da Umbanda, no Reino de Aruanda, onde passou a servir com dedicação e amor. Como gostava de sentar num toco em frente a sua cabana, para conversar, ficou conhecido como Pai João do Toco.


Pombagira Cigana das Encruzilhadas...

"Vinha caminhando a pé, para ver se encontrava a minha Cigana de fé.
Ela parou e leu minha mão e disse-me toda a verdade... E eu só queria saber onde mora: Pombagira Cigana de fé!"

Essa Pombagira Cigana possui uma história bastante peculiar de solidão e sofrimento. Nasceu na Baviera (Bayern - popularmente conhecida por Bavária), uma das maiores regiões da Alemanha. Seu nascimeno foi muito festejado por seus pais, que pertenciam a religião pagã dos Celtas - o Druidismo. Ela seria uma sacerdotisa (druidesa) e desde muito cedo aprendeu a arte de curar, os nomes das ervas e a interpretar os sinais da natureza. Aos doze anos era uma linda menina que conhecia muito de sua antiga religião.
Nessa época a Inquição fazia incursões pela Europa caçando "bruxas" e antigos seguidores das religiões ancestrais. Seus pais sempre mantinham tudo muito bem guardado e escondido num porão. Mas, alguém os delatou e a Inquisação bateu em sua porta. Seus pais foram presos, julgados e condenados. Seu irmão foi degolado ali mesmo. E ela, por ser menina, foi preservada e levada até a Itália, para ser a serva de um importante Bispo. Durante um ano tentou em vão escapar. Quando a oportunidade surgiu, ela apunhalou seu captor e conseguiu fugir. Foi ajudada por um guarda em troca de favores sexuais.
Atravessou a Itália, com a intenção de retornar à Alemanha, mas quando soube das Guerras que por lá estavam acontecendo, decidiu ir para a França. Já estava com 17 anos e toda a sua inocência havia se perdido. Agora conhecia a realidade da vida e a crueldade do homem. Sobreviveu na travessia, escondendo-se pela estrada, viajando a noite e trocando favores como podia.  Ela chegou ao sul da França em 1728 e se instalou numa choupana abandonada próximo a um vilarejo. Com o tempo, começou a praticar sua antiga religião e começou a ser procurada por aqueles que precisavam de ajuda. Ganhou a confiança do vilarejo e pode viver tranquilamente por vinte anos. Nunca quis casar, porque ainda lembrava os maus tratos que sofreu, quando menina, nas mãos de seu captor.
Porém, a Inquisição voltou a encontrá-la e dessa vez não escapou. Foi presa, julgada e condenada por prática de bruxaria. Torturam-na e enforcaram-na numa encruzilhada da vila. Muitos no vilarejo também foram mortos. Durante algum tempo seu espírito vagou querendo vingança e perseguindo aqueles que a condenaram. Quando foi recolhida à Aruanda compreendeu sua história e relembrou sua missão de vida. Foi convidada a ficar e a trabalhar; poderia usar todo o seu conhecimento ancestral e auxiliar a quem necessitasse. Assim, tornou-se a Pombagira Cigana das Sete Encruzilhadas, porque seu espírito viajou muito e conheceu muitas estradas...


A missão dos baianos na Umbanda...

"Salve o Grande Cruzeiro da Bahia, Meu Pai!
E salve o Nosso Senhor do Bonfim!"

Os portugueses adentraram o Brasil pelas terras da Bahia, na época denominada de Ilha de Vera Cruz. Pensaram que aqui fosse uma ilha e somente depois viram a imensidão deste território. Na época, entraram no Brasil todos os excluídos de Portugal e da Europa, para trabalhar e começar sua vida. Depois vieram os negros, que após índios, também foram escravizados. E assim, o Brasil cresceu cheio de misturas. Os baianos representam essa miscelânea de conhecimentos e a miscigenação das raças. Eles podem atuar em qualquer Linha: de Oxalá, das Águas, de Ogun, de Xangô, de Oxóssi, de Nanã ou das Almas.
O Baiano é aquela entidade que traz alegria para o terreiro e descarrega as cargas negativas e pesadas de um trabalho. Costuma-se dizer que todo Baiano é mandigueiro! Pois o Baiano sabe desenrolar-se de qualquer situação. No começo da difusão da Umbanda houve um pouco de preconceito com essas entidades, pelo fato delas representarem o principal elo de ligação com a Santeria Iorubana. A Santeria era muito confundida com o Candomblé e o Tambor de Mina. Hoje, sabe-se que todas são religiões distintas, onde cada uma possui seu próprio ritual e características bem definidas.
O Baiano, também é uma entidade que possui ligação direta com Ifá (sincretizado com a Santíssima Trindade e Dono do Jogo de Búzios). Por isso, muitos médiuns que trabalham com os baianos sentem-se afinizados com o búzio e seus mistérios. Outra prática do baiano é o Jogo da Capoeira(chamado assim, porque a capoeira, quando surgiu, não era usada como luta ou defesa, apenas como jogo de roda entre os escravos). Trabalhar com um "Baiano" é trabalhar com um pedaço da história do Brasil!


O mundo dos Encantados!

"Nas matas da Jurema houve um tiroteio, nas matas da Jurema, houve um tiroteio...
Ei Juremê, ei Juremá! O Pai das Matas mandou lhe chamar!"

Encantaria ou Terecô não é uma prática Umbandista. Ela surgiu em alguns estados do Norte, como Amazonas e Nordeste, como Piauí, Maranhão e Pará, com a vinda dos escravos. É uma forma de pajelança afro-ameríndio. Na Encantaria as entidades não morreram, eles se "encantaram", ou seja, se transformaram em seres da natureza. Assim, temos: sereias, botos, curupiras, etc. Na Encantaria, as entidades estão agrupados em famílias e possuem nome, sobrenome e geralmente sabem contar a sua história de quando viveram na terra antes de se encantarem; diferente da Umbanda, na qual as entidades são espíritos de índios, escravos, etc, que desencarnaram e hoje trabalham dentro de uma Linha de atuação. Na Encantaria temos as seguintes Famílias: do Lençol, da Turquia,  da Bandeira, da Gama, de Codó, da Bahia, Surrupira, do Juncal, dos Botos, dos Marinheiros, entre outras...
Com o surgimento da Umbanda e com sua expansão por todo o Brasil, muitos "Encantados" passaram a fazer parte das Falanges de trabalhadores de Aruanda e começaram a se apresentar nos terreiros de todo o Brasil. O Caboclo Sete Encruzilhadas já havia frisado que a Umbanda aceita a todos que queiram trabalhar e evoluir na Lei Maior do Amor e da Caridade. Assim, passamos a ter na Umbanda: o Povo das Matas, o Povo das Águas, etc. No Povo das Matas, temos Caboclos e Caboclas bem conhecidos atuando, como: Pena Branca, Jurema, Jacira, Jussara, Sultão das Matas,  Chefe das Matas, Guaracy, entre outros. No Povo das Águas temos a atuação dos marinheiros e das sereias. Também temos outros encantados e outros povos menos conhecidos e cultuados. Portanto, a Umbanda tornou-se ampla e difundida e congregou muitas crenças e entidades e, por isso, os Encantados passaram a fazer parte da Colônia Jurema.


Cabocla Janaína: a sereia do mar...

"O mar serenou quando ela pisou na areia...
Quem samba na beira do mar é Sereia!"

A Linha das Águas compreende tanto as Caboclas de Iemanjá como as Caboclas de Oxum. As Caboclas dessa Linha são formosas, simpáticas e de extrema paciência. Assumem diversos nomes, como: Janaína, Iara, Inaê, Jandiara, Jandira, Jandaia, Indaiá, entre outros. Também temos Caboclos atuando nessa Linha... Mas, hoje, contarei apenas a história da Cabocla Janaína desta seara.
Janaína significa "Rainha do Lar". Ela nasceu na Tribo dos Goitacás, no litoral sul do estado do Espírito Santo. Eles eram índios pacíficos e felizes porque evitavam a guerra. Seu pai era um grande guerreiro e sua mãe uma grande tecelã. Viviam da caça e da pesca. Sua pele era queimada do sol da praia, onde gostava de passar horas apreciando o mar. Sabia nadar como um peixe e compreender a linguagem da natureza.
Quando a expedição Cabralina passou por suas praias ela foi uma das primeiras a avistar o navio e o homem branco. Apaixonou-se pelo que viu: eles pareciam deuses para ela... Janaína possuía olhos amendoados, longos cabelos negros e pele morena do sol. Seu corpo possuía boa forma e beleza. Por isso, chamou a atenção do homem branco, quando ele desembarcou próximo a sua aldeia. Ela correu avisar os chefes da Tribo e chamar os demais. Acompanhou de longe todos os contatos, mas não entendia o que eles falavam. Pelos sinais percebeu que tentavam se aproximar e fazer amizade. Deram presentes, que para ela eram desconhecidos: garfos, colheres, espelhos, colares... Mas, que pareciam tesouros! O que mais lhe chamou a atenção foi o espelho! Já havia se mirado nas águas de um lago, mas olhar-se num espelho, era mágico!
Os portugueses lhe deram um vestido e um adorno de cabelo e lhe mostraram como usar tudo aquilo. Ela se vestiu e se enfeitou e percebeu os olhares sobre ela. Nunca mais foi a mesma. Sentiu-se encantada com esse novo mundo. Sabia que existia muito mais do que ela conhecia. Foram vários meses de visita. Ela não tinha medo do homem branco e até apaixonou-se por um deles; ele era um dos imediatos do navio. Mas, ela já estava prometida em casamento.
Após dois anos de visitas contínuas, ela entregou-se ao rapaz, em meio a natureza. Dois meses depois estava grávida e o navio já estava de partida. Sua tribo era severa com traições. Seria mantida presa na oca até o nascimento da criança, a qual seria dada aos animais. Depois a prenderiam em um mastro no meio da tribo, com privações diversas sob o sol e a lua, até que contasse quem era o pai da criança. Em seguida seria expulsa ou morta com uma flechada no peito. Por conta disso, desesperou-se ao perceber que ficaria sozinha. Não tinha planejado nada daquilo, apenas aconteceu. Então, ao ver o navio partindo, atirou-se às águas e nadou o mais que pode para alcançá-lo. Queria pedir ao pai da criança que a levasse junto. Mas, suas forças enfraqueceram e afogou-se nas águas profundas... A Mãe d'Água compadecida, devolveu seu corpo à praia e quando a encontraram não entenderam o que aconteceu. A Tribo dizia que ela morreu por amor ao homem branco.
Depois que desencarnou seu espírito foi recolhido e ela soube o restante da história. O rapaz retornou a Portugal e nunca mais visitou o Brasil. E somente trinta anos depois os brancos voltaram a pisar em sua terra nativa. Os capixabas foram colonizados e os índios catequisados pelo Padre José de Anchieta. Foi convidada a trabalhar para auxiliar os índios que morreriam nos próximos anos devido à ocupação pelo homem branco. Foi então fundada a Colônia de Jurema, que começou a abrigar todos os nativos que morriam para preservar seu solo. Os séculos passaram e muita coisa aconteceu ao Brasil. Sua terra não era mais a mesma. Surgiu a Colônia de Aruanda e um novo trabalho se instalou e ela se tornou mais uma trabalhadora da Seara Umbandista no solo brasileiro.



A Pombagira do Brejo...

E sua missão de cura.

Essa importante, mas quase desconhecida Pombagira, trabalha na Linha de Nanã, com a energia de cura das águas dos lagos e pântanos. Em sua última experiência de vida, nasceu em 1630, na região de Estrasburgo, na Alemanha Ocidental; em plena Guerra dos Trinta Anos, onde vários países europeus guerreavam entre si por terras, poder e religião. Nesse período, a Alemanha viveu um de seus piores declínios.
Sua família era de origem nobre e seus pais eram importantes comerciantes judeus na época. O estado alemão confiscou seus bens, suas terras e seus filhos. Os meninos eram usados como soldados no campo de batalha e as meninas tornavam-se concubinas. 
Ela era uma bonita moça que foi transformada em concubina real e mais tarde em serviçal dos religiosos protestantes. Conheceu toda a revolta e a guerra cristã européia. Quando sua idade não lhe permitiu mais servir aos caprichos dos nobres, foi dispensada aos campos de batalha para limpar as feridas dos soldados e servir comida a eles.
Os lugares onde as guerras aconteciam tornavam-se atoleiros de brejos lamacentos, mal-cheirosos e friorentos. Ao trabalhar nesse local, viveu, desse modo, todos os horroros da guerra, em meio a chuva, ao frio e a fome.
Ao desencarnar, sua alma era dor pelos sofrimentos que viu e passou. Aceitou expurgar essa dor na falange das guardiãs dos locais de batalhas sangrentas (o brejo) e trabalhou como socorrista dos soldados mortos nos campos.
Hoje, ela trabalha socorrendo as vítimas de catrástofes naturais e também limpa a aura daqueles atingidos por magia negra. Essa é sua especialidade: limpar, purificar e curar. 


Cacique Aimoré e Cacique Tupinambá:

E a história de suas vidas...

Após a chegada dos portugueses ao Brasil, outras etnias quiseram disputar espaço, como os franceses e os espanhóis. E isso gerou muitas revoltas no litoral de toda a extensão do território brasileiro. Houveram muitas guerras, como a de Paraguaçu, no Recôncavo Baiano; o extermínio dos Potiguaras, no Rio Grande do Norte; entre outras que nem são relatadas pela história, pois foram esquecidas. Mas, aqui quero falar da bravura de dois caciques: Tupinambá e Aimoré; e relatar a sua visão da história.
Uma das guerras mais importantes, disputadas pela aliança entre índios e brancos, para preservar seu território dos invasores foi a Confederação dos Tamoios. Para os índios, pior do que perder suas terras para um estranho, era perdê-la para muitos estranhos! Por isso, mesmo vendo o tamanho do inimigo que se aproximava à beira-mar, entre 1563 e 1567, os índios Tupinambá (do Rio de Janeiro), os Carijós (do Planalto Paulista), os Aimoré (da Serra do Mar) e os Goitacá (também da Serra do Mar), fizeram a Aliança com o homem branco e criaram a Confederação dos Tamoios. Mas, nos dois lados da disputa haviam índios e brancos e, nos dois lados, a história não era verdadeiramente narrada aos de "pele vermelha" (pele que o sol queimou).
Os Tamoios venceram muitas batalhas e eles nem sabiam porque lutavam, pois o homem branco apenas fez uso de sua força. O índio foi enganado e usado por "Brancos Reformadores" (os Conquistadores) e por "Brancos Pacificadores" (os Jesuítas). De qualquer forma, o índio perdeu, pois milhares de vidas foram dizimadas; dezenas de tribos desapareceram e muitos índios fugiram e se embrenharam nas matas densas. Essa foi a história da Reforma e da Contra-Reforma - era o destino da Colonização, da Coroa contra a Igreja, de uma nação contra outra e da qual o índio participou sem saber porque lutava. As Tropas Indígenas dos Tamoios foram vencidos pelos Jesuítas e aqueles que não fugiram, tornaram-se servos do homem branco. E aqui iniciou-se uma nova história para o Brasil...
O Cacique Tupinambá e o Cacique Aimoré eram amigos, suas Tribos eram vizinhas e dividiam os mesmos costumes, as mesmas tarefas e a mesma língua. Os habitantes das duas tribos eram amigos e podiam se auxiliar. Durante séculos puderam viver em paz e tranquilidade. As guerras eram somente com os índios Guaikurus, quando esses tentavam invadir seu território. Os índios das diversas etnias, que habitavam as Américas, eram altos, fortes, destemidos e nobres. Sabiam progredir sem ameaçar a natureza, viviam em aldeias bem organizadas. Mas, a interferência do branco e a mistura das raças fez o índio perder sua origem e seu verdadeiro código de valor.
Quando a Guerra que dizimou as tribos Tupinambá e Aimoré aconteceu, os Caciques deram suas vidas para evitar a extinção total de suas raças. Ao final da batalha perceberam que haviam sido enganados pelo homem branco e ajudaram alguns índios a fugir para preservar a raça e a verdade de sua história. Aqueles que se salvaram foram o mais longe que puderam e até hoje não se sabe mais onde os encontrar...
Cacique Aimoré e Cacique Tupinambá choraram a perda dos seus, pelo massacre que aconteceu. Não importava o lado da batalha: todos perderam. Eles partiram para a morada de Mboi para aguardar o chamamento de Tupã. Quando lhes falaram de uma Terra semelhante a deles onde poderiam trabalhar suas origens eles aceitaram a tarefa. Foi assim que se dirigiram a Jurema e ajudaram a Aruanda no trabalho de propagação da nova religião de amor e união de todas as raças: a Umbanda! Aceitaram comandar as falanges que receberiam seus nomes e trabalhar com os índios desencarnados nas batalhas à beira-mar.
E aqui teve início uma nova história de refazimento do solo brasileiro pelos nativos de pele vermelha. Agora eles poderiam trabalhar com seus irmãos brasileiros, sem o preconceito pela cor de sua pele e pelas suas origens, pois hoje eles são aceitos como são: apenas índios! E essa é a AUMBANDHÃ!
 

Arriba aos Ciganos!

E Salve Santa Sara!!!

Os Ciganos costumam atuar em uma Falange própria, como "Povo Cigano" ou pertencendo à Falange do "Povo do Oriente". Dificilmente um cigano atuará na "esquerda" de uma casa; a não ser que o médium necessite trabalhar essa falange e não tenha outra casa para trabalhar. O médium que tem a missão de trabalhar com o povo cigano é porque possui essa ligação de outras vidas.
Quando um médium nasce acompanhado de um cigano, além de incorporar, ele terá o dom de ser clarividente e a missão de encaminhar com consciência aqueles que o procuram. Assumir o dom da clarividência muitas vezes assusta a maioria dos médiuns, pois existem muitas conversas em torno desse dom. A pessoa precisa ler, estudar, se instruir, compreender esse dom, para saber utilizá-lo da melhor maneira possível. Por isso, ter como Mentor Espiritual um cigano ou uma cigana é sinal de muita responsabilidade, pois isso permite ao médium saber da vida de seu consulente.
Hoje em dia existem inúmeros cursos de Terapia Alternativa (Terapia Holística) que atuam na área da cura e que utilizam conhecimentos exotéricos, místicos e cabalísticos, de conhecimento do povo cigano. A pessoa que se forma em um curso e utiliza essa área para ajudar outras pessoas não pode de forma alguma ser chamada de charlatã ou condenada como se estivesse utilizando seus dons mediúnicos. Segundo o próprio Allan Kardec, todos os seres humanos são médiuns em maior ou menor grau. Alguns utilizam sua mediunidade sem saber e outros sabem que tem e não utilizam. Médicos, psicólogos e professores, por exemplo, são médiuns que atuam auxiliando a sociedade de forma neutra, sem a necessidade de mostrar sua mediunidade aos outros.
A diferença entre uma Cigana e uma Pombagira Cigana está na forma como elas conduziram suas vidas quando pertenceram a uma tribo. Normalmente, a Pombagira deixou de fazer parte da tribo por algum motivo e passou a ganhar sua vida nas ruas, lendo cartas ou mãos. A Cigana, ao contrário, nunca saiu da tribo. O médium pode perguntar a história de vida de quem o acompanha e saber da Pombagira o que a levou a abandonar a tribo. O mesmo ocorre com o Exu Cigano, mas eles são mais raros; pois na época do Povo Rom, cigano que abandonasse a tribo era perseguido e morto!
Os Saltimbancos era ciganos a margem da socidade. Ou seja, todos os ciganos que nasciam com defeitos físicos eram excluídos da tribo e passavam a viver sua própria lei. Assim, montavam arenas, picadeiros, circos ou se tornavam "bobos" da corte; realizando espetáculos para entreter o povo e ganhar a vida.
Os ciganos compreendem a arte da magia, da quiromancia e da cartomancia; são exímios dançarinos, sedutores e galanteadores. Sabem falar e se portar com destreza em qualquer ambiente. O Povo Rom, na verdade, foi um povo de muitas posses, sendo perseguido pela Inquisição que queria se apossar de seu ouro e de suas riquezas.