segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Obá 

Obá, divindade de um rio que leva o mesmo nome, é a terceira mulher de Xangô. Uma grande rivalidade, porém, não demorou a surgir entre ela e Oxun. Ela era jovem e elegante, Obá era mais velha e usava roupas fora da moda, fato que nem chegava a perceber pois pretendia monopolizar o amor de Xangô. Com este objetivo, sabendo o quanto Xangô era guloso, procurava sempre surpreender os segredos das receitas de cozinha utilizadoas por Oxun, a fim de preparar as comidas de Xangô. Oxun, irritada, decidiu pregar-lhe uma peça e, um belo dia, pediu-lhe que viesse assistir, um pouco mais tarde, a preparação de determinado prato que - segundo lhe disse Oxun, maliciosamente - realizava maravilhas junto a Xangô, seu esposo comum. Obá apareceu na hora indicada. Oxun, tendo a cabeça atada por um pano que lhe escondia as orelhas, cozinhava uma sopa na qual nadavam dois cogumelos. Oxun mostrou-os à sua rival, dizendo-lhe que tinha cortado as próprias orelhas, colocando-as para ferver na panela, a fim de preparar o prato predileto de Xangô. Este, chegando logo em seguida, tomou a sopa com apetite e deleite e retirou-se, gentil e apressado, em companhia de Oxun. Na semana seguinte, era a vez de Obá cuidar de Xangô. Ela decidiu pôr em prática a receita maravilhosa: cortou uma de suas orelhas e fê-la cozinhar numa sopa destinada a seu marido. Este não demonstrou nenhum prazer em vê-la, assim, com a orelha decepada e achou repugnante o prato que ela lhe serviu.Oxun apareceu, neste momento, retirou seu lenço e mostrou que suas orelhas jamais tinham sido cortadas, e devoradas por Xangô. Começou, entào, a caçoar da pobre Obá que, furiosa, se precipitou sobre a sua rival. Seguiu-se uma luta corporal entre elas. Xangô, irritado, fez explodiro seu furor. Oxun e Obá, apavoradas, fugiram e se transformaram nos rios que levam seus nomes. No local de confluência dos dois cursos d'água, as ondas tornam-se muito agitadas em lembrança da disputa entre as duas divindades.
Consta-se ainda sobre Obá uma lenda, por vezes atribuída a Oxun, baseada num jogo de palavras: "O rei de Owú, partindo em expedição guerreira, deve atravessar o rio Obá com seu exercito. O rio estava em período de enchente e as águas tão tumultuadas que não podiam ser atravessadas. O rei fez, então uma promessa solene, embora mal formulada. Ele declarou: 'Obá, deixe passar meu exercito, eu lhe imploro; faça baixar o nível de suas águas e, se sair vitorioso da guerra eu lhe oferecerei uma boa coisa, nkan rerê'. ora, ele tinha por mulher uma filha do Rei de Ibadan que levava o nome de Nkan, e era esta que o rio Obá pensava receber como oferenda. As águas baixaram, o rei atravessou o rio e venceu a guerra. Regressou com um saque considerável. Chegou próximo ao rio Obá, ele o encontrou novamente em período de cheia. O rei ofereceu-lhe todas as' boas coisas', nkan rerê - tecidos, búzios, bois, comidas - mas o rio rejeitou todos estes dons. Era Nkan, a mulher do rei, que ele exigia. Como o rei de Owú era obrigado a passar, teve que lançar Nkan às águas. Mas ela estava grávida e pariu no fundo do rio. Este rejeitou o recém-nascido, declarando que somente Nkan lhe tinha sido prometida. Ás águas baixaram e o Rei voltou triste aos seus domínios, seguido pelo seu exercito.
O Rei de Ibadan tomou conhecimento do ocorrido. Indignado, declara não haver dado a sua filha em casamento para que lhe servisse de oferenda a um rio. Fez a guerra a seu genro, venceu-o e expulsou de seu país".
No Brasil, assim que Obá aparece num candomblé, montada sobre uma de suas iniciadas, ata-se um turbante sobre sua cabeça a fim de esconder uma de suas orelhas, como recordação da lenda já referida. Se Oxun se manifesta, no mesmo momento, a tradição exige que as duas divindades encarnadas procurem lutar novamente e é preciso, então, intervir energicamente para separá-las. A dança de Obá é guerreira: ela brande um sabre com uma das mãos e leva um escudo na outra.
São-lhe feitas oferendas de cabras, patos e galinhas de Angola. Ela é sincretizada com Santa Catarina mas, como existem muitas santas com este nome, não se sabe, co certo, se se trata de Santa Catarina de Alexandria, ou de Bolonha, ou de Gênova, ou de Siena.
O arquétipo de Obá é aqueles das mulheres valorosas e incompreendidas. Suas tendências um pouco viris fazem-nas freqüentemente voltar-se para o feminismo ativo. As atitudes militantes e agressivas são conseqüências de experiências infelizes ou amargas por elas vividas. Os seus insucessos são freqüentemente resultado de um ciúme um pouco mórbido. Entretanto encontram geralmente compensações para as frustrações sofridas, em êxitos materiais, onde a sua avidez de ganho e o cuidado de nada perder de suas bens, tornam-se garantias de sucesso..

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